Minha
candidatura é o protesto do povo
ADHEMAR
DE BARROS
Devo
a êste maravilhoso órgão de divulgação,
mais esta oportunidade de continuar o meu diálogo com o
povo brasileiro. Continuarei a fazê-lo na mesma linguagem
das minhas palestras com a nossa gente em minhas peregrinações
de tantos anos. Faço-o sem arrogância e sem imposições:
de brasileiro para brasileiro, de igual para igual. Sei que, desde
o mais humilde ao mais letrado, todos entendem a minha Mensagem
de fé nos destinos da nacionalidade.
Uma longa jornada
e uma extensa fôlha de serviços autorizam-me a falar
com o povo e em nome dêsse mesmo povo, em nome do Brasil
e em nome da Democracia. Sou homem de partido. Sou homem de ideais
democráticos, homem de postulados políticos. Sou
candidato, mas não o sou por imposições pessoais
ou de grupos. Luto sòzinho. Não tenho pelas minhas
costas, a impulsionar-me, nem o Govêrno Federal nem o Govêrno
do Estado de São Paulo. Eu não tenho os apoios oficiais,
nem os apoios particulares. Eu só tenho você, brasileiro.
E, só com você, eu tenho, graças a Deus, mais
do que os meus opositores, pois o que vale é o voto e não
essa avalancha de dinheiro que pode comprar políticos,
mas não compra a consciência cívica dos brasileiros.
Sou, portanto, candidato para vencer. Eu sinto que o povo repele
a propaganda milionária dos candidatos dos Bancos oficiais
do Poder Central e do Estado de São Paulo e dos grupos
financeiros que temem a vitória de quem não tem
compromissos com êles, mas apenas com as massas sofredoras
da nossa terra.
Eu só tenho
você brasileiro, que não tem o direito ao pão
de cada dia, porque os preços estão pela hora da
morte. Eu só tenho você, desabrigado, doente, sem
trabalho, que precisa mais de um govêrno humano do que de
palácios, espadas ou vassouras. Você, sem casa e
sem pão, mas com a alma forte e corajosa. Você que
aprendeu, nas vicissitudes por que tem passado, a retemperar a
coragem cívica e protestar, através do voto que
não se vende, contra êsse estado de coisas. Eu só
tenho você, trabalhador espoliado do seu salário,
que não lhe permite ter casa para morar, leite e escolas
para os seus filhos.
Você, meu companheiro
de lutas democráticas, você, povo, sabe que não
gosto de acusar ninguém. Gosto, isto sim, de esclarecer
a opinião pública. Eu não tenho inimigos
pessoais. Os meus inimigos são os inimigos do povo. Se
protesto, se mostro erros e desacertos, é porque os vândalos
da nossa Economia, os grupos parasitários e os seus candidatos
sem partidos, querem tirar ao povo o seu direito de livre escolha.
Aí estão as marchas e contramarchas de candidatos
que procuram assustar a opinião pública com ameaças
de golpes e sangue nas ruas brasileiras, onde deveria correr sòmente
a abundância de alimento e progresso. Aí estão
as iras da derrota iminente que vem solapando, inclusive, o prestígio
pessoal do Presidente JK. Eu o avisei, de amigo para amigo, de
brasileiro para brasileiro, de que uma candidatura imposta seria
um abuso capaz de dar nisso que todos estão vendo: essa
volúpia de ofensas de dois candidatos que se digladiam
em praça pública, ao invés de apresentar
idéias ou programas. Aí estão as reviravoltas
do oportunismo. Aí estão as ideologias exóticas
transparentes, que tomam as côres do momento, ao bel-prazer
do oportunismo. Novas armadilhas são preparadas para o
povo, inclusive nas promessas de continuísmos dêsse
estado de coisas, com palácios construídos a custa
do pão do trabalhador. Então aí as artimanhas,
as maquinações da intriga, o ópio com que
pretendem dopar as nossas consciências, lançando
carradas de papel com rótulo de dinheiro, um papel que
não dá para pagar a conta do trabalhador no fim
do mês. Aí está, também, a miragem
da sêde do Poder a qualquer preço, ainda que seja
o preço das maquinações realizadas em viagens
nababescas fora da nossa Pátria.
A minha candidatura
é o protesto do Povo! É o protesto do único
partido que tem candidato próprio e leva à praça
pública um ideal, uma ideologia de trabalho e progresso,
com um programa realista e uma Plataforma, a única apresentada
até agora ao povo. Eu protesto, portanto, em nome do povo
contra a ameaça de agressão à Democracia.
Eu protesto contra a deturpação do regime. Se não
vamos entrar numa guerra, para que espada? Se não vamos
fazer ditadura, mas democracia, para que precisamos do ódio,
da vingança, das perseguições e do juízo
final, a que se propõe o homem da vassoura?
Pelos símbolos
se conhecem os homens. Um apresenta por símbolo, que é
aquilo que deve haver de melhor em sua alma, uma vassoura que,
por sinal, serviu de símbolo a tôdas as feiticeiras
do passado; o símbolo do mal. O outro, apresenta uma espada,
símbolo da prepotência e da fôrça. É
por isso que o povo já anda dizendo, com a sua sabedoria
divina, que “Entre
a Fôrça do Mal e o Mal da Fôrça”,
símbolizados na vassoura e na espada, eu sou o caminho.
O caminho da Democracia, da Verdade e do Entendimento, simbolizado
num “salva-vidas”
que é o de que a Nação anda precisando neste
caos em que se debate.
Eu protesto. Eu não
deixarei esta ânsia de poder a qualquer preço chegar
à agressão ao direito do voto livre. Em 3 de outubro,
o povo brasileiro vai ajudar-me a dar uma lição
de Democracia a êsses senhores.
Agora mesmo
estamos vendo a confirmação dos meus cálculos
de aumento dos preços de gêneros. Está publicada
no “Correio
da Manhã”
do dia 28 de agôsto último. Eu disse que os preços
tinham encarecido 50 anos em 5. A banha aumentou 350% ! A batata,
a cebola, o feijão, a farinha de mandioca, o milho e até
o amendoim subiram até 600%. Nunca se viu isto em nossa
História. Agora, eu pergunto: onde está o candidato
da “Oposição”
que não apresenta solução verdadeira para
a alta desmedida dos preços, chegando mesmo a louvaminhar
o govêrno do Senhor Juscelino em muitas de suas manifestações,
como o fêz recentemente em Brasília? E o candidato
do govêrno terá uma boa defesa para essa alta astronômica
do custo da vida, quando o govêrno gasta bilhões
para uma obra faraônica?
Não,
brasileiros! Não farão nada pelo povo, simplesmente
porque ambos são candidatos dêles próprios,
sem partidos, sem ideais e sem programas.
Eu converso
com o povo e lhe digo que, de início, sustarei as emissões
desenfreadas; modificarei a distribuição orçamentária,
dando 30% ao município, 30% ao Estado e 40% à União;
darei preferência, nesse orçamento, aos Ministérios
da Educação, Saúde e da Agricultura, não
como ora se faz, quando os três Ministérios, Aeronáutica,
Marinha e Exército, consomem mais de 50% do orçamento
num país pacífico como o nosso, dentro de um mundo
dominado por potências que podem anular as nossas fôrças
com as suas fabulosas bombas de hidrogênio e atômicas
e com as suas frotas aéreas, de teleguiados de capacidade
arrasadora nunca vista. Eu tenho programa e tenho idéias.
Quero o Govêrno não para fazer prevalecer a ganância
de grupos, sejam os ora dominantes ou os inconformados que vão
buscar um candidato fora de suas hostes sòmente para se
servirem dêle e não para servir o povo.
Eu não
sou problema. Não sou a inflação arrasadora
de situações econômicas ou morais. Não
sou o alto custo da vida para o qual não contribuí,
pois em meus governos, realizando mais que todos os governos,
jamais aumentei impostos ou taxas. Eu não sou a fome. Não
sou a doença do corpo, nem a doença da alma, nem
a doença do regime. Não sou o desemprêgo e
nem a falência da Previdência Social. Não a
pompa e nem o desperdício. Não sou a volúpia
do poder, nem o ódio ou a vingança. Não sou
a espada, nem a vassoura: sou o salva-vidas. Sou a solução.
Sou a solução para o Brasil, como fui, mercê
de Deus, a solução para São Paulo. Sou a
solução do Brasil, porque sou a solução
para o homem do Brasil e para o regime democrático.
A candidatura
do povo está intacta. A vitória do povo, ninguém
a tira. A plataforma de govêrno do povo é a resposta
aos seus algozes, aos prepotentes e aos místicos da política.
Vamos abrir novos caminhos para o Brasil. O Brasil tem um lugar
reservado entre as potências em choque. O Brasil será
aquela potência moral, que atuará como um freio entre
as ideologias em luta. O mundo fica cada vez menor. Um conflito
mundial pode causar danos indiretos ao Brasil. Vamos lutar pela
paz, com os nossos instrumentos de trabalho. O trabalho será
a nossa linguagem democrática perante os outros povos.
Mas trabalho que não seja castigo: trabalho que seja libertação!
Vamos abrir os nossos portos ao mundo inteiro. Vamos vender e
comprar, vamos negociar, em têrmos honestos, com todos os
países do mundo. Mas vamos mostrar, com o nosso trabalho,
com a organização da nossa vida, que esta é
uma Democracia. Isso será o mesmo que dizer aos outros
povos: esta é uma Democracia. Respeitai-a e vivereis felizes!
Vamos falar
a linguagem da nossa tradição cristã, que
é a linguagem do amor e não o ódio! Não
nos vamos unir a ninguém para ir contra ninguém.
O Brasil não entrará em guerra. Não pode
entrar, pois temos que realizar uma guerra muito mais digna, aqui
dentro mesmo: a guerra contra a fome, a sêca, o desabrigo,
o desemprego e o subdesenvolvimento. Para isso, eu tenho uma plataforma
de govêrno. E essa plataforma de govêrno traz as soluções
para o homem do Brasil. A sua valorização e a valorização
do seu trabalho. O pão, a água, a casa, a terra,
o trabalho, a saúde, a educação. Uma coisa
está ligada a outra. Por isso, solucionando o problema
da saúde, com assistência real, postos de saúde,
maternidades, assistência volante que atinja até
o coração da Pátria, teremos um homem saudável.
Mas é preciso educá-lo, dar-lhe escolas, cartilha,
tabuada, transporte, merenda, tudo gratuito, principalmente a
escola técnica, o artesanato, as escolas profissionais.
É preciso, também, remunerar o mestre de acôrdo
com seus altos deveres, sem cercear as atividades legítimas
do ensino particular onde temos tido a grande fôrça
libertadora da ignorância em nossa terra. Somam as milhares
as escolas religiosas e são incontáveis as ações
dos missionários que levam até o índio a
palavra da verdade, porque instrução é verdade.
Quanto à terra, o homem deve conquistá-la com irrigação,
instrumentos próprios, créditos, máquinas,
sementes. A saúde e a instrução lhe darão
maior capacidade de trabalho, e mais pão para todos. Não
basta dar terra ao homem: é preciso dar o homem à
terra! Com a liberdade sindical, previdência atuante e permanente,
salário justo, as condições de trabalho melhoram.
E, aí, o homem precisa da industrialização.
O aço é a matéria-prima do progresso. Centenas
de siderurgias nos darão aço suficiente para a industrialização.
E aço quer dizer fartura. Com aço desencadearemos
a espiral, não da inflação, mas do próprio
desenvolvimento.
Transporte, Energia,
Saúde e Educação devem ser resolvidos pela
criação de sistemas de rêdes completas. Não
adiantam as providências estanques. Por onde passar a Energia
Elétrica, passarão o transporte, o médico
e o livro.
Os recursos
para realizar todo um programa de govêrno estarão
à disposição no meu govêrno, com estas
providências: a) eliminação das despesas supérfluas;
b) reforma do orçamento; c) melhor distribuição
das rendas, com 30% para os Municípios, 30% para os Estados
e 40% para a União, como atrás falamos. O Município
executará quase tudo e a União planificará
quase tudo.
O princípio
básico será: centralizar para planificar e descentralizar
para executar.
A par disso, teremos
que realizar o aumento da produção e das vendas
para o exterior. Aumento da produção do petróleo
para economizar divisas, bem como do trigo e do papel de imprensa.
Venda em melhores condições do nosso minério
de ferro, que nos poderá dar tanto quanto nos dá
o café. Criação da cooperativa do café,
para libertar os cofres públicos da sustentação
cara dos preços. E, para baixar o custo da vida, a solução
será a Reforma Tributária. Taxação
pesada sôbre os artigos de luxo e as rendas altas. Libertação
dos artigos e gêneros de primeira necessidade e dos salários.
Salário não é renda, tenho afirmado e, se
eleito, provarei que resolverei êsse problema.
Assim tenho falado
ao povo nas minhas peregrinações por êste
imenso País. Assim continuarei falando através dos
órgãos de divulgação como esta brilhante
Revista. Assim falarei quando eleito Presidente da República,
porque gosto de dialogar com o povo e sei que lhe interpreto as
mais sentidas aspirações. Assim irei falando, trabalhando,
realizando a exemplo do que fiz em São Paulo e, agora,
na Prefeitura da cidade que mais cresce no mundo, até que
possamos construir um Brasil Melhor dentro de um Mundo Melhor.
A minha saudação
a “O
Cruzeiro”
e, através dêste instrumento portentoso da opinião
pública, a todo o povo brasileiro: Para a Frente e Para
o Alto!
Desta Vez, Vamos!