Ah,
que maravilha seria se dessem valor às palavras dos visionários!
As facilidades da chamada vida moderna - que envelhece a cada instante - chegariam
mais rápido e muitos problemas poderiam ser evitados. Melhor que um visionário,
só mesmo um visionário bem humorado, desses futuristas, no sentido
mais casto da palavra. Nada de previsões catastróficas e profecias
assustadoras, mas soluções para as dificuldades existentes e as
que ainda estão por vir.
Manoel Gomes de Medeiros
Dantas era assim. Para ser considerado normal deveria estar vivendo sua
juventude agora e não no final do século XIX. Nascido a
26 de abril de 1867, em Caicó, interior do Rio Grande do Norte,
Manoel - ou Manuel como você poderá achar em alguns textos
- foi advogado, juiz, educador, jornalista, político e precursor
dos estudos de folclore em seu estado.
No volume I de Patronos e
Acadêmicos (referente à Academia Norte-Riograndense de
Letras), Veríssimo de Melo diz que Manoel, “na juventude, foi um
revoluciário. Abolicionista e propagandista da República.
Defendeu com ardor suas idéias na tribuna popular, fazendo conferências
e divulgando seu pensamento na imprensa”.
Algumas vezes utilizando-se das descrições
de Juvenal Lamartine, “que o conheceu de perto e muito o admirava”, Veríssimo
enfatiza o bom humor e a força de vontade fora do comum do caiocense.
“Ainda estudante, não podendo comprar O Direito das Cousas, de
Lafaiete, resolveu o problema copiando à mão, os dois volumes
da grande obra”.
As breves descrições
de Manoel Dantas como jornalista, jurista, educador e estudioso das tradições
populares encontrados no livro de Veríssimo de Melo merecem ser
lidas na íntegra: “Como jornalista, - declara Lamartine, - ‘foi
a mais completa organização jornalística que o Rio
Grande do Norte já possuiu’. Dirigindo A República,
tudo fazia, desde o editorial ao noticiário estrangeiro, muitas
vezes inventando ‘greves de padeiro em Madri’, para suprir necessidades
da paginação, nas oficinas. Deixou nesse aspecto, delicioso
anedotário.
“Depois de formado, no Recife, em 1891, foi promotor
e logo juiz substituto seccional. Cedo, porém, procurou outros rumos,
que mais se coadunavam com a sua personalidade. Exerce a advocacia com desembaraço,
pois possuía cultura jurídica, gostava da tarefa e tinha a vocação
de servir. Por isso, muitas vezes foi explorado pelos seus correligionários,
que não lhe retribuíam os serviços profissionais.
“Foi educador avançado para a época
em que viveu. Durante vários anos, dirigiu a Instrução
Pública no estado, introduzindo o ensino profissional agrícola.
Foi o primeiro mestre a dar lições de lavoura mecânica,
acrescentando as vantagens da adubação das terras, seleção
de sementes, rotação e mecanização dos trabalhos
do campo.
“Pioneiro dos estudos das tradições
populares no Rio Grande do Norte, foi o primeiro a recolher e valorizar, na
imprensa, os contos, crenças, lendas, superstições, velhos
costumes. Era conversador extraordinário de graça e repentes,
contando coisas na voz do povo, imitando expressões, atitudes, gestos
dos outros”.
Fato marcante na vida de Manoel Dantas foi sua
conferência no Salão de Honra no Palácio do Governo, a 21
de março de 1909. Cobrando ingresso dos espectadores, falou sobre Natal
daqui a cinquenta anos. Muitas das então extraordinárias previsões
se realizaram.
Publicou trabalhos jurídicos, Lições
de Geografia, um estudo sobre a origem dos nomes dos municípios do
Rio Grande do Norte e vários ensaios, reunidos depois de sua morte sob
o título Homens de Outrora.
Faleceu em Natal, a 15 de junho de 1924.
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